Autoavaliação do risco de disfagia e vulnerabilidade clínico-funcional em idosos com histórico de hanseníase
Self-assessment of risk of dysphagia and clinical-functional vulnerability in older adults with a history of leprosy
Maria Clara Rocha; Aline Mansueto Mourão; Jéssica Danielle Santos de Jesus; Laélia Cristina Caseiro Vicente; Adriane Mesquita de Medeiros
Resumo
Objetivo: Relacionar a autoavaliação do risco de disfagia e a vulnerabilidade clínico-funcional, idade, sexo, dentição, escolaridade e institucionalização de idosos com histórico de hanseníase e verificar a qualidade de vida em deglutição daqueles com risco. Método: Estudo transversal com 117 idosos, sendo os critérios de inclusão idade igual ou superior a 60 anos, com histórico de hanseníase e sem histórico de transtornos mentais, comprometimento cognitivo por acidente vascular cerebral ou síndrome demencial. Foram obtidas informações como sexo, idade, escolaridade, institucionalização e dentição e utilizados protocolos: Índice de Vulnerabilidade Clínico-funcional (IVCF-20), Autoavaliação do Risco de Disfagia (EAT-10) e Autoavaliação da Qualidade de Vida em Deglutição (SWAL-QOL). Verificou-se associação entre a autoavaliação do risco de disfagia em idosos com histórico de hanseníase e as demais variáveis por meio dos testes qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher, nível de significância de 5%. Resultados: Houve predomínio de idosas entre 80 e 99 anos, com ensino fundamental incompleto, não institucionalizados e em uso de prótese dentária. De acordo com a autoavaliação, o risco de disfagia foi encontrado em 22 idosos (18,8%) e o domínio da qualidade de vida mais comprometido foi “duração da alimentação”. Houve associação estatística do risco de disfagia com a idade e a vulnerabilidade clínico funcional. Conclusão: Ter idade acima de 80 anos e ser considerado frágil aumenta a chance do idoso com histórico de hanseníase ter autoavaliação do risco de disfagia. O maior prejuízo na qualidade de vida em deglutição foi relacionado ao domínio “duração da alimentação”.
Palavras-chave
Abstract
Purpose: To relate self-assessed dysphagia risk to clinical-functional vulnerability, age, sex, dentition, education, and institutionalization of older adults with a history of leprosy, and to assess the swallowing quality of life of those at risk. Methods: Cross-sectional study with 117 older people. The inclusion criteria were being 60 years or older, with a history of leprosy, and no history of mental disorders, cognitive impairment due to stroke, or dementia syndrome. The study obtained information such as sex, age, education, institutionalization, and dentition, and used the following protocols: Clinical-Functional Vulnerability Index (IVCF-20), Eating Assessment Tool (EAT-10), and Quality of Life in Swallowing Disorders (SWAL-QOL). The association between self-assessed dysphagia risk in older adults, a history of leprosy, and the other variables was verified with Pearson’s chi-square and Fisher’s exact tests, with a 5% significance level. Results: There was a predominance of non-institutionalized older women aged 80 to 99 years, with incomplete elementary education, using dentures. According to self-assessment, 22 older adults (18.8%) were at risk of dysphagia, and the most compromised quality of life domain was “eating duration.” The risk of dysphagia was statistically associated with age and clinical-functional vulnerability. Conclusion: Being over 80 years old and being considered frail increases the chance of older people with a history of leprosy having a self-assessed risk of dysphagia. The greatest impairment in the quality of life was related to “eating duration”.
Keywords
Referências
1Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância e Doenças Transmissíveis. Guia prático sobre a hanseníase [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2017 [citado em 2024 Set 21]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_hanseniase.pdf
» https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_hanseniase.pdf
2Kumar S, Alexander M, Gnanamuthu C. Cranial nerve involvement in patients with leprous neuropathy. Neurol India. 2006;54(3):283-5. http://doi.org/10.4103/0028-3886.27154 PMid:16936390.
» http://doi.org/10.4103/0028-3886.27154
3Organização Mundial da Saúde. Estratégia Global de Lepra 2016-2020: acendendo-se em direção a um mundo livre de lepra. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2016.
4WHO: World Health Organization. Global leprosy update, 2020: impact of COVID-19 on global leprosy control. Wkly Epidemiol Rec. 2021;36:421-44.
5Pescarini JM, Teixeira CSS, Silva NB, Sanchez MN, Natividade MS, Rodrigues LC, et al. Epidemiological characteristics and temporal trends of new leprosy cases in Brazil: 2006 to 2017. Cad Saude Publica. 2021;37(7):e00130020. http://doi.org/10.1590/0102-311x00130020 PMid:34346981.
» http://doi.org/10.1590/0102-311x00130020
6Rocha MCN, Nobre ML, Garcia LP. Características epidemiológicas da hanseníase nos idosos e comparação com outros grupos etários, Brasil (2016-2018). Cad Saude Publica. 2020;36(9):e00048019. http://doi.org/10.1590/0102/311x00048019 PMid:32965374.
» http://doi.org/10.1590/0102/311x00048019
7Matos TS, Souza CD, Moura JC, Fernandes TR, Mariano RD. Fatores associados à limitação de atividade em casos novos de hanseníase em município hiperendêmico do Nordeste, Brasil: estudo transversal. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2021;16(43):2379. http://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2379
» http://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2379
8Quintas VG, Salles PV, Costa VC, Alvarenga EA, Miranda ICC, Attoni TM. Achados fonoaudiológicos na hanseníase: considerações teóricas. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(4):560-4. http://doi.org/10.1590/S1516-80342009000400022
» http://doi.org/10.1590/S1516-80342009000400022
9Zanin LE, Melo DM, Carneiro MSM, Gomes JM, Pinto VPT, Silva LWB, et al. Proposta e validação de um protocolo de triagem para identificar as manifestações fonoaudiológicas na hanseníase. Rev Bras Promoç Saúde. 2016;29(4):564-73. http://doi.org/10.5020/18061230.2016.p564
» http://doi.org/10.5020/18061230.2016.p564
10Jesus JDS, Ferreira FR, Andrade ACS, Medeiros AM. Idosos de uma antiga colônia brasileira de hanseníase: vulnerabilidade clínico-funcional e autopercepção vocal e auditiva. CoDAS. 2021;33(5):e20200058. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202020058 PMid:34524350.
» http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202020058
11Palheta FX No, Silva M Fo, Pantoja JMS Jr, Teixeira LLC, Miranda RV, Palheta ACP. Principais queixas vocais de pacientes idosos pós-tratamento para hanseníase. Rev Bras Otorrinolaringol (Engl Ed). 2010;76(2):156-63. http://doi.org/10.1590/S1808-86942010000200003 PMid:20549074.
» http://doi.org/10.1590/S1808-86942010000200003
12Villar VM, Furia CLB, Mello EJ Jr. Disfagia orofaríngea em indivíduos portadores de hanseníase. Rev CEFAC. 2004;6:151-7.
13Bretan O, De Souza LB, Lastória JC. Laryngeal lesion in leprosy and the risk of aspiration. Lepr Rev. 2007;78(1):80-1. PMid:17518100.
14Alexandrino A, Cruz EKL, Medeiros PYD, Oliveira CBS, Araújo DS, Nogueira MF. Avaliação do índice de vulnerabilidade clínico-funcional em idosos. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2019;22(6):e190222. http://doi.org/10.1590/1981-22562019022.190222
» http://doi.org/10.1590/1981-22562019022.190222
15Delevatti C, Rodrigues EC, Almeida ST, Santos KW. Prevalência e fatores de risco para disfagia orofaríngea em idosos frágeis com fraturas traumato-ortopédicas. Audiol Commun Res. 2020;25:e2388. http://doi.org/10.1590/2317-6431-2020-2388
» http://doi.org/10.1590/2317-6431-2020-2388
16Yang RY, Yang AY, Chen YC, Lee SD, Lee SH, Chen JW. Association between dysphagia and frailty in older adults: a systematic review and meta-analysis. Nutrients. 2022;14(9):1812. http://doi.org/10.3390/nu14091812
» http://doi.org/10.3390/nu14091812
17Bertolucci BHF, Brucki SMD, Campacci SR, Juliano Y. O mini-exame do estado mental na população geral. Arq Neuropsiquiatr. 1994;52(1):1-7. http://doi.org/10.1590/S0004-282X1994000100001 PMid:8002795.
» http://doi.org/10.1590/S0004-282X1994000100001
18Moraes EN, Carmo JA, Moraes FL, Azevedo RS, Machado CJ, Montilla DER. Índice de vulnerabilidade clínico-funcional-20 (IVCF-20): reconhecimento rápido do idoso frágil. Rev Saude Publica. 2016;50(81):1-10. http://doi.org/10.1590/s1518-8787.2016050006963 PMid:28099667.
» http://doi.org/10.1590/s1518-8787.2016050006963
19Belafsky PC, Mouadeb DA, Rees CJ, Pryor JC, Postma GN, Allen J, et al. Validity and reliability of the Eating Assessment Tool (EAT-10). Ann Otol Rhinol Laryngol. 2008;117(12):919-24. http://doi.org/10.1177/000348940811701210 PMid:19140539.
» http://doi.org/10.1177/000348940811701210
20Gonçalves MIR, Remaili CB, Behlau M. Equivalência cultural da versão brasileira do Eating Assessment Tool - EAT-10. CoDAS. 2013;25(6):601-4. http://doi.org/10.1590/S2317-17822013.05000012 PMid:24626972.
» http://doi.org/10.1590/S2317-17822013.05000012
21McHorney CA, Robbins J, Lomax K, Rosenbek JC, Chignell K, Kramer AE, et al. The SWAL-QOL and SWAL-CARE outcomes tool for oropharyngeal dysphagia in adults: III - Documentation of reliability and validity. Dysphagia. 2002;17(2):97-114. http://doi.org/10.1007/s00455-001-0109-1 PMid:11956835.
» http://doi.org/10.1007/s00455-001-0109-1
22Portas JG. Validação para a língua portuguesa-brasileira dos questionários: qualidade de vida em disfagia (SWAL-QOL) e satisfação do paciente e qualidade do cuidado no tratamento da disfagia (SWAL-CARE). São Paulo: Fundação Antônio Prudente; 2009.
23Cardoso SV, Teixeira AR, Baltezan RL, Olchik MR. Impacto das alterações de deglutição na qualidade de vida de idosos institucionalizados. Rev Kairós Gerontol. 2014;17(1):231-45. https://doi.org/10.23925/2176-901X.2014V17I1P231-245
» https://doi.org/10.23925/2176-901X.2014V17I1P231-245
24Lim Y, Kim C, Park H, Kwon S, Kim O, Kim H, et al. Socio-demographic factors and diet-related characteristics of community-dwelling elderly individuals with dysphagia risk in South Korea. Nutr Res Pract. 2018;12(5):406-14. http://doi.org/10.4162/nrp.2018.12.5.406 PMid:30323908.
» http://doi.org/10.4162/nrp.2018.12.5.406
25Ferraz MST, Guimarães MF, Nunes JA, Azevedo EHM. Risco de disfagia e qualidade de vida em idosos saudáveis. Distúrb Comun. 2020;32(3):454-61. http://doi.org/10.23925/2176-2724.2020v32i3p454-461
» http://doi.org/10.23925/2176-2724.2020v32i3p454-461
26Bomfim FMS, Chiari BM, Roque FP. Fatores associados a sinais sugestivos de disfagia orofaríngea em idosas institucionalizadas. CoDAS. 2013;25(2):154-63. http://doi.org/10.1590/S2317-17822013000200011 PMid:24408245.
» http://doi.org/10.1590/S2317-17822013000200011
27Barbosa KTF, Fernandes MGM. Elderly vulnerability: concept development. Rev Bras Enferm. 2020;73(3, Suppl 3):e20190897. http://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0897 PMid:33111804.
» http://doi.org/10.1590/0034-7167-2019-0897
28Jesus ILR, Montagner MI, Montagner MÂ, Alves SMC, Delduque MC. Hanseníase e vulnerabilidade: uma revisão de escopo. Cien Saude Colet. 2023;28(1):143-54. http://doi.org/10.1590/1413-81232023281.09722022 PMid:36629560.
» http://doi.org/10.1590/1413-81232023281.09722022
29Igarashi K, Kikutani T, Tamura F. Survey of suspected dysphagia prevalence in home-dwelling older people using the 10-Item Eating Assessment Tool (EAT-10). PLoS One. 2019;14(1):e0211040. http://doi.org/10.1371/journal.pone.0211040
» http://doi.org/10.1371/journal.pone.0211040
30Wang T, Zhao Y, Guo A. Association of swallowing problems with frailty in Chinese hospitalized older patients. Int J Nurs Sci. 2020;7(4):408-12. http://doi.org/10.1016/j.ijnss.2020.09.005 PMid:33195752.
» http://doi.org/10.1016/j.ijnss.2020.09.005
Submetido em:
25/06/2024
Aceito em:
28/03/2025


